quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
O olho e a lágrima
Olho - Eu quero. Mas não consigo... Pestanejo, mas não sai nada!
Lágrima - Não sai, porque não deixo. Não quero morrer em vão.
Olho - Mas eu não te quero deitar em vão, quero ficar mais leve...
Lágrima - E, por isso, abandonas-me! Deixas-me cair! Matas-me!
Olho - Mas é para meu bem, para me limpar da tristeza...
Lágrima - Garanto-te que se isso te ajudasse, era a primeira a tomar a iniciativa. Mas “ouve” o que te digo...
Olho - Tu pensas o quê? Que é fácil ver o que eu vejo? Perceber o que observo? Para ti é fácil, não é? Quem vê sou eu! És a minha parasita!
Lágrima - Eu peço-te... Não me largues! Não me aguento aqui muito mais tempo, tens de te acalmar...
Olho - VÊ SE PERCEBES UMA COISA! EU QUERO E PRECISO DE CHORAR! TAMBÉM TENHO DIREITO, NÃO?
Lágrima - MAS TU, CHORANDO OU NÃO, DAQUI A BOCADO VAIS COMEÇAR A SENTIR-TE BEM OUTRA VEZ! JÁ EU... EU VOU DEIXAR DE SENTIR!
Olho - Mas não podes ficar aí para sempre! Não me posso corroer por dentro...
Lágrima - Já não posso dizer mais nada. A minha queda está na tua decisão... mas pensa bem... sei que te vais arrepender...
E tudo acontece em segundos. O olho une uma pálpebra à outra, e volta a ver o que está à sua frente.
A lágrima... a lágrima vai escorrendo pela face, embebendo a pele que atravessa no seu caminho... e cai. É esquecida, findada... é nada.
O olho... arrependeu-se. Cometeu um “lagricídio” sem que ninguém o julgasse. Só no fim percebeu que não valeu a pena abandonar a lágrima.
A vida continuou para ele. Boa ou má, continuou... Para a lágrima, não. Até ao final da sua “vida”, mais “lagricídios” ele cometeu.
É assim que reagem os seres humanos. Seres imperfeitos, com fraquezas.
Mas chorar de vez em quando, faz bem. É pena é não resolver nada.
Façam como o outro que diz: “Tenho uma lágrima no canto do olho!...”, e deixem-na lá estar. Abandonem-na só quando o caso for sério, e parem lá com as pieguices, pois enerva quem chora sem razão! Deixem isso para as crianças, que é o principal modo de se exprimirem... nós, já não!