terça-feira, 24 de março de 2009

O ódio



O ódio é um sentimento corrosivo, cansativo... hoje senti-o novamente. É tão raro senti-lo, mas tão intenso quando o sinto.
Deu-me desejo de ferir as pessoas causadoras desse ódio. Apertá-las até elas sentirem a dor que me causam. Entro no autocarro com esse ódio. E as pessoas à minha volta transformam-se num monte de esterco. Pouco me importa se lá estão ou não. Estou cega, completamente cega.
E, de repente, esse monte de esterco transforma-se em gente sem culpa nenhuma do que estou a sentir. Os meus olhos tão pesados de raiva, e tão abertos, como se visualizassem o local por onde o autocarro passa, mas que não vêm nada a não ser quem e o que me causou ódio, começam a descair um pouco para formarem um olhar triste, cansado... o aumento dos batimentos cardíacos, a força que senti, o desejo de dar um pontapé ou um murro em qualquer coisa que visse à minha frente, acaba por ceder ao cansaço psicológico.
Tento manter uma postura direita, um olhar esgazeado, para que não perca esse ódio, essa raiva pelas reles pessoas que me abalaram a tranquilidade do meu ser. Quero que esse sentimento me percorra como um veneno e me torne mais forte, desperte mais vontade de desejar sentimentos maus a essas tais pessoas. O desejo de lhes mandar para sítios impróprios, de gritar até me sentir completamente extenuada... Provavelmente, os palavrões foram inventados para libertarem a tensão. Talvez a sonância dessas palavras me faça sentir bem ao ouvi-las da minha boca sempre bem-educada, sempre certinha... tão certinha que às vezes enjoa.
Mas este sentimento abandonou-me aos poucos... Não me esqueço do motivo que o causou, que me pode prejudicar para sempre a vida, nem das pessoas a quem posso atribuir as culpas deste problema... Mas a posição desempenada passa a encurvada, e os olhos em vez de tomarem um olhar ameaçador, como são o reflexo da alma, tomam um olhar vago, triste, inútil.
Pois é... a culpa é desta merda de justiça e de quem diz uma coisa e escreve outra. De quem finge com a postura e apunhala-nos com relatóriozinhos para o Sentenciador. Isto de confiarmos em alguém sempre foi perigoso, eu sempre o soube. Mas é esta minha idiotice de acreditar no que as pessoas dizem com uma cara confiante de que tudo está bem quando tudo vai mal. E são estes alguns dos estercos de Portugal.
Eu até gostaria de dizer, com indiferença, como o João da Ega de “Os Maias”:
“- Fez-me o efeito de haver um cabrão mais na cidade.”.
Mas esse tal “cabrão”, ou “cabrões”, não me podem ser indiferentes. Parte da minha vida, senão toda, está dependente da decisão e dos juízos de Suas Excelências. Estamos, decididamente, entregues aos bichos...

domingo, 1 de março de 2009

Obrigado Avó (e Parabéns!!!)


Obrigado pelas lágrimas que derramaste quando me viste pela 1ª vez.
Obrigado por teres ido ver se eu estava bem.
Obrigado por teres ficado comigo.
Obrigado por teres ficado no lugar que a minha mãe deveria ter cumprido.
Obrigado por me teres levado para o hospital por causa dos meus ex-ataques de asma.
Obrigado por me teres dado a mão todas as noites que passei no hospital, enquanto lá estive internada, pois só assim eu adormecia.
Obrigado por teres chorado comigo quando as enfermeiras me injectavam cortisona de um modo rápido, grosseiro e doloroso (ainda hoje tenho uma vaga imagem dessa cena).
Obrigado por me teres livrado da cortisona (que faz tão mal ao corpo) e me teres curado definitivamente, através da Homeopatia.
Obrigado por teres ido, no Natal ou nos meus Anos, com o avô, à secção dos brinquedos onde estava o que eu desejava (sem que fosse na secção das bonecas!).
Obrigado por te colocares sempre em segundo plano para que eu fique em primeiro.
Obrigado por aturares o meu incrível mau feitio, porque quando me dá... dá-me forte e feio.
Obrigado por te rires das minhas parvoíces, e pelas parvoíces que tu também fazes... porque não és como aquelas pessoas que, quanto mais vão envelhecendo, mais amargas e rezingonas vão ficando.
Obrigado por ouvires os meus desabafos, os meus receios. Por ouvires alguns dos textos que escrevo e dizeres que gostaste.
Obrigado por teres paciência para aturar as minhas “lutas” com o avô. Ele é tão “chato” às vezes (maior parte delas)... parecemos duas crianças!
Obrigado por, quando não tenho paciência para estar a estudar sem ninguém na sala, vires jogar para o computador para me fazeres companhia.
Obrigado pelos beijos de boa-noite.
Obrigado por decidires voltar a ocupar o lugar que a minha mãe, novamente, não cumpriu. Ele há-de adorar a avó, tal como eu... não terá uma avó de 43 anos como eu tive quando nasci, mas terá uma avó jovem de espírito, com força e amor para dar.
Obrigado por o ires ver às terças-feiras, e me falares dele com um brilho nos olhos e um sorriso nos lábios.
Obrigado por estares disposta a ficar com ele como fizeste comigo. A história repete-se.

Ai,ai... talvez esteja mal habituada em algumas situações como, nos dias de semana, ainda seres tu a apagar-me a luz enquanto eu me deito... já estou a ficar sem idade para estas coisas. É pena, mas tenho de aproveitar enquanto cá estamos.

Tantos Obrigados que te devo... Agora percebo que nunca te disse realmente o quanto gostava de ti (quer dizer, eu digo, mas não com todo o sentimento que devia, e quando o digo é sempre entre as nossas gargalhadas, como se fosse algo sem grande importância), e não me quero arrepender depois, por isso: GOSTO MUITO DE TI! ADORO-TE!

Mas sabes (e sei que sabes)... não gosto muito de demonstrar o que sinto... não tenho jeito, nem paciência. Mas às vezes é necessário. E essa vez chegou.

Obrigado, Obrigado, Obrigado, Obrigado,... e MUITOS PARABÉNS pelos teus 61 anos, ‘vó! E que vivas muitos e muitos mais, pois ainda preciso muito de ti (e agora também vai precisar ele, o teu neto mais novo, e único rapaz)... Irei precisar de ti toda a Vida... mas não quero pensar nisso. Ainda há-de faltar muito para te livrares de mim...! Muitos beijinhos!


(eu e avó no Baleal)