quinta-feira, 16 de junho de 2011

Respirando o passado

Ajudo um senhor a subir para o autocarro. A idade pesa e não perdoa.
Entro e oiço “Baby” de Justin Bieber. Olho para identificar o ouvinte, surpreendida com o volume bastante audível da música... A ouvinte é uma jovem. Calma e discretamente, sento-me e oiço o meu próprio som.
Desço do autocarro após o conhecido trajecto percorrido em 4 anos. Obras na antiga Clínica Veterinária (onde realizei uma Curta), pertencendo já há uns anos à PJ, finalmente em andamento.
Avisto o Liceu centenário, com o patrono Camões à porta, sempre pronto a receber um dos seus antigos discípulos. Percorro escadas, corredores, e respiro com prazer. Cheira-me a passado. Anseio absorver tudo de um único trago. Memórias soltas que se unem enquanto chego ao destino.
Encontro dois antigos colegas enquanto espero pelo início. Percorridas as escadas em caracol que dão acesso a um ambiente mais íntimo, encontro mais caras conhecidas.
As luzes apagam-se para que o teatro comece. Este apagão fez-me entrar em pensamentos mais profundos. Pensei na minha antiga turma. Nos ausentes, nos presentes e em quem partiu por sua vontade. Cada um seguiu o seu caminho. Contudo, caminhos cruzaram-se hoje na sala escura. Percorre-me um misto de aflição e alegria.
Excelente teatro, que nos fez pensar sobre temas como o aborto, a diferença de idades nas relações, a situação em que o país se encontra, os sentimentos do ser humano... Tanta coisa em uma hora. Apenas 4 actores. Uma profunda representação de cada tema, em que o silêncio muitas vezes significa mais do que as palavras. Comunicação verbal e não verbal.
O teatro acaba. Felicito os actores que, apesar de amadores, são bastante bons a fazer o que amam. Sinto orgulho. Orgulho da minha amiga participante, por quem fui assistir à peça. Lá começam os nossos risos abafados devido ao espectador inconveniente que lá estava e às suas intervenções descabidas. Comunicação não verbal novamente.
Chega a altura da despedida. É necessário retomar aos caminhos divergentes. Mas são horas como estas que fazem com que tudo valha a pena. São estas retrospectivas que nos fazem pensar até onde chegámos.
Fico contente por conseguir, de certa forma, unir o meu passado e o meu presente. Contente por tentar manter vários laços de amizade que valem realmente a pena. No meu coração só existe lugar para gente boa, genuína... tal como tu, Isabel. MUITOS PARABÉNS pela tua actuação.

Conversa antes da ida ao teatro:
- Avó, sabes... eu fico contente por conseguir tentar juntar o passado e o presente. Estou na faculdade, mas ainda mantenho os laços de infância. Laços que criei na primária, na escola básica e no secundário. Isto é bom, não é?
- Claro que sim. Fazes muito bem.
- Penso que isto ajuda a manter um equilíbrio interior, alguma estabilidade.

O futuro por vezes assusta. Tudo o que é desconhecido assusta. Devemos encará-lo, mas são necessárias bases para o fazer.
Eu sou o meu passado, o meu presente e o meu futuro. Se não os conciliar serei tudo... menos eu.